Os livros que propomos para « A Hora do Conto », em Fevereiro, são « O lago dos cisnes», para os mais novos e para os mais velhos « A substância do amor».
Deixamos aqui alguns excertos para "aguçar" o apetite:
« O Lago dos Cisnes », de Pyotr Tchaikovsky, com ilustrações de Lisbeth Zwerger, da Ambar
« Mal tinha acabado de falar quando,com um fragoroso bater de asas, uma coruja atravessou os ares. Era o feiticeiro malvado, o próprio, que tinha tomado a forma de coruja para espiar o par. O príncipe pediu à Rainha dos Cisnes para vir ao baile do castelo na noite seguinte, quando poderia apresentá-la como sua noiva. Cheia de alegria, ela concordou,e ficaram de mãos dadas até à alvorada. Ao raiar do sol, um grupo de raparigas vestidas de branco corre agitadamente. Cheio de espanto, o príncipe observou a Rainha dos Cisnes e as amigas a transformarem-se, uma vez mais, em aves.»
Podes ver o ballet completo aqui:
http://youtu.be/9rJoB7y6Ncs
« A substância do Amor e outras crónicas», de José Eduardo Agualusa, da D. Quixote
Beijar um sapo
« Uma recente pesquisa da revista brasileira Isto É, assegura que as três principais qualidades que as mulheres procuram nos homens são o carinho, a sinceridade e a inteligência. A esmagadora maioria afirma não se importar com o facto de um homem ser feio. Já os homens continuam a citar Vinicius de Moraes: « que me desculpem as muito feias, mas beleza é fundamental»; e só relativamente poucos se afirmam preocupados com a inteligência e o património cultural da possível companheira.
Segundo o mesmo artigo as mulheres queixam-se de ser cada vez mais difícil encontrar homens interessantes, disponíveis para um relacionamento duradouro. Não admira: o que aqueles dados sugerem, em primeiro lugar, é que as mulheres são muito mais inteligentes que os homens. E, embora não esteja explícito, fica a suspeita de que a maior parte dos homens receia as mulheres inteligentes.
Antigamente, quando as mulheres estavam confinadas à cozinha, ou à vida inútil dos salões, era fácil iludir esta questão. O homem mantinha o logro da sua superioridade intelectual, que justificava o secular domínio masculino, e podia até dar-se ao brilho de escolher como esposa uma mulher inteligente. Hoje não: os homens já têm que competir nos empregos com mulheres intelectualmente mais preparadas do que eles. Ainda que jamais o confessem ( não confessariam isso nem sujeitos a tortura), poucos aceitam a possibilidade de transportar tal situação para o interior do lar.
As mulheres, conforme nos ensina a velha fábula, não se importam de beijar um sapo, sabendo que dentro dele se esconde um príncipe. Os homens, na sua maioria, beijariam a princesa, e voltariam a beijá-la, mesmo depois de a ouvirem coaxar na piscina, numa noite de lua cheia. « Era um sapo » admitiriam mais tarde em conversa com os amigos, « mas que pernas!».
Ao contrário, se um homem suspeitar que dentro de um sapo pode haver uma mulher inteligente, pisa o sapo: « um nojo! E ainda por cima queria saber se eu já tinha lido Kafka? ... ».
Não consigo imaginar o que poderá resultar deste lamentável desencontro histórico. Uma das mulheres entrevistadas do artigo da Isto É acha que existem apenas duas opções: « Ou você se mata ou vira lésbica.» Parece-me uma posição extremamente pessimista. Tenho a certeza de que muitas mulheres preferem continuar a beijar sapos, a vida inteira, mesmo sabendo que na maior parte dos casos eles são apenas isso: sapos.
Afinal, um beijo, como cantava o velho Sinatra, é somente um beijo. E pelo menos os sapos não costumam telefonar no dia seguinte.»