terça-feira, 26 de janeiro de 2016

CONCURSO NACIONAL DE LEITURA


Os alunos do 3º ciclo, que venceram as provas do Concurso Nacional de Leitura e que irão representar a nossa Escola à Biblioteca Municipal Almeida Garrett, são:

RICARDO LIMA Nº 22  - 7ºA 

INÊS TEIXEIRA Nº 8 -  7º A

ANA TEIXEIRA Nº1 -  7ºC

Parabéns a todos os que participaram e boa sorte para a próxima etapa, aos vencedores.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

LUÍSA DACOSTA

A propósito do nosso trabalho sobre Luísa Dacosta, fica aqui uma entrevista onde ela fala de si e da sua obra.


terça-feira, 12 de janeiro de 2016

LUÍSA DACOSTA

Este ano, a proposta de trabalho conjunto com o SABE da Biblioteca Almeida Garrett, é a autora Luísa Dacosta.
O objetivo é levar os alunos a conhecerem melhor a obra desta autora portuguesa.
A nossa Biblioteca elaborou um projeto a que deu o nome de « A arca de encantar de Luísa Dacosta », com imensas propostas de atividades que se desenrolarão ao longo do ano e finilarizarão em Maio.

Assim, deixamos aqui excertos de alguns livros para que possam deixar-se encantar pelas palavras da autora para quem o sonho é uma fuga à solidão, um caminho para a liberdade e transformação da realidade.

Eis como ela define um livro:

« Abre um livro.
... Um livro permite-te contactar com outras imaginações, outras sensibilidades. E a possibilidade de estares noutros lugares, sem abandonares o teu chão, de ouvires pulsar outros corações, de vestires a pele humana de outro ou outros sem deixares de ser tu. »















O Perfume do Sonho, na Tarde - Luísa Dacosta

O perfume do sonho envolvia-a, debaixo do dossel de folhas da árvore, que emborralhava já a sonolência, ronronante, do bichano – seu companheiro – e que só com ela se aventurava a sair do aconchego da casa.

Que bom! Não havia aulas, nem deveres, naquela tarde de sábado! Podia gastar o tempo à vontade… Boa altura para um pincho no sonho. Como se lhe adivinhasse o desejo, e mais lesto do que parecia natural num ronronar, preguiçoso, já o gato ia a cavalo numa vassoura de bruxa, sem o consentimento dela!
― Sape, daí já!
Bruxas não eram da sua predilecção. Convinha pensar um pouco, antes de se meterem, às cegas, em aventuras… E se tirasse, da arca encantada, os seus vestidos mágicos? Mas qual? O de princesa de diadema, à espera de um noivo, que lhe decifrasse o enigma do amor? O de pastora, adormida, de romeirinha e de coração esperançoso, a sonhar que um príncipe perdido numa caçada a encontraria?
O de menina-malmequer, pronta também a florir e a partilhar o merendeiro com um beijo de boas-tardes? Qual escolher?
E o de Xerazade? Esse, esse. Nada lhe agradava mais do que ser a que, diligentemente, emudecia com o surgir da manhã e, depois de mil e uma noites de encantamento, havia de conseguir conquistar o amor, graças ao feitiço da sua palavra. O de Xerazade servia-lhe, como uma luva. E, então, perante o bichano-companheiro, que assistia atento e segurava as fitas do sonho, envergou as suas calças tufadas, de gomos de seda colorida às pintas, vestiu o seu corpete que encaixava só as laranjinhas, adolescentes, dos seios e lhe deixava a descoberto o pescoço e a ondulação do corpo até à cintura. Com todo o cuidado colocou o seu turbante com pena de pavão e só deixou de fora da sua farta cabeleira dois caracóis, que lhe emolduravam a luz, maliciosa, dos olhos. O que faltava? Ah! as suas pulseiras a serpentear pelo braço, o leque de plumas para esconder o sorriso, trocista, de quem se sabe de antemão vencedora. E ainda o anel que o seu senhor lhe tinha oferecido, para florir o alado dos gestos, enquanto contava as suas histórias. Tudo a postos. Na sua imaginação, a noite, que tão benéfica lhe era como indicava o seu nome, que significava filha da Lua, não tardaria a descer sobre os minaretes do palácio. Do jardim, já subiam os perfumes que o morrer da tarde acentuava e a envolviam. E gozava, de antemão, a surpresa do marido, quando lhe começasse a contar do califa Haroun al-Raschid, que gostava de percorrer Bagdad incógnito e era capaz de aprender a justiça com as crianças, ou as sete viagens de Sindbad, o marinheiro e o muito que a sua imaginação ainda sabia e era capaz de desembaraçar, sem perder o fio à meada. Estava certa não apenas de se fazer amar, mas até de ajudá-lo na governação do reino e mostrar-lhe que uma mulher, mesmo quando escrava como Morgiana, pode ser de grande ajuda e não apenas e só uma flor de prazer. Confiante, sentia-se desejosa de mais uma noite a vir. E assim a deixou a rapariga, desejosa também ela doutras paragens, doutras aventuras e doutros sonhos. Nem precisou de tapete mágico, como Aladino.
― A mim, meus cavalos de vento e pensamento!
Ali estavam, às ordens para partir para os longes – até onde?
Até ao palácio da Rainha das Neves, que tanto a tinha fascinado, quando tinha lido a história. Mas o palácio ficava para lá dos vales brancos de neve da Finlândia, no grande Norte. Tinha de se preparar. Precisava de luvas, cachecol, e também para o pobre bichano. Já estava pronta, ela e o companheiro, quando se achou, mesmo assim, pouco preparada para gelos tão eternos. Podiam constipar-se, não convinha arriscar. Resolveu trocar os sapatos por umas botas, vestir um casacão debruado a pele, aconchegante, providenciar um regalo, um gorro que não lhe deixasse gelar as tranças e um cachecol de lã, mais quente, para o seu companheiro. Agora, sim. Bem preparados, podiam partir e até tinham uma chave-coração para abrir as portas do sonho desejado.
― A caminho!
E à medida que avançava no meio da neve e do gelo, começou a pensar como é que Gerda tinha sido capaz de caminhar com os pés nus sobre aquela frialdade, glaciar, só aquecida pelo desejo de ter de volta o seu companheirinho de brincadeiras, e livrá-lo do esquecimento em que o tinha mergulhado a Rainha das Neves. Ah! a amizade verdadeira era um grande mistério!
Brr… que frio! Tinham, finalmente, chegado. Ali estava o palácio com as paredes feitas de poeiras de neve, de portas e vidros de ventos agrestes, salas vazias e cintilantes, iluminadas por auroras boreais, e no meio de um lago, gelado, o trono da Rainha das Neves, onde ela se sentava, quando não viajava no seu trenó. Sentia as suas trancinhas inteiriçadas, como pingentes de sincelo, debaixo do gorro de pele.
― Vamos regressar! Vamos regressar!
E, em menos de um ai, ela e o bichano, montados num cavalo de pensamento, muito mais rápido do que os cavalos de vento, estavam a salvo, outra vez debaixo da sombra, protectora e quente, da árvore.
Aquilo de ser sempre rapariga também a aborrecia um pouco. Em sonhos, estava ao seu alcance ser rapaz. Porque não? Robin dos bosques, já que gostava tanto de subir às árvores? Gnomo, para poder descer às profundezas da terra e das águas e ajudar princesas, aflitas e desmioladas, que tinham perdido anéis? Não se sentia muito tentada… E pirata? Ah! pirata era melhor forma para o seu pé, aventureiro, e trazia-lhe o bom cheiro da maresia, sempre colado à sua pele, de tal maneira o mar era grato ao seu coração. Estava decidido. Seria pirata, escorreito, sem perna de pau e com uma pala para tapar, a fingir, não o olho cego, mas o olhinho, guincho e esperto, de sondar os longes.
Com um pulo, ágil, logo o bichano se enredou no cordame de mais aquele sonho, para não perder, ele também, mais aquela aventura. E ambos se atracaram ao pirata de “Era uma vez…” Justamente na tarde em que, feliz, ele tinha descoberto que os verdadeiros tesouros, pelos quais tinha espadeirado e combatido, em abordagens perigosas, estavam afinal, ali, sem sangue, nem combates, ao alcance da mão e do olhar. Onde? Onde? Na natureza. Quem podia duvidar? Que ouro mais valioso do que o das estrelas? Ou de mais puro quilate do que o do sol, quando incendiava a manhã, nascente? Que jóias mais lucilantes do que as miríades de brilhos espelhados no mar? Que rubis mais maduros do que os do coração das romãs? Que verdes de esmeralda podiam competir com os das folhinhas, lavadas pela chuva? Que diamantes mais cheios de luz do que os das gotas do orvalho, na renda, preciosa, das teias de aranha? Tudo ali ao alcance da mão e do olhar. Agora que tudo se tinha aclarado no seu espírito, estava disposto a desistir da pirataria. O seu trabalho seria outro. O de procurar alguém que como ele gostasse de nadar e com quem pudesse partilhar aquela verdade: os verdadeiros tesouros estavam ali ao alcance da mão, na água cristalina da nascente, onde matava a sede, nos frutos da terra e na imensidão do mar – que servia de espelho ao sol, à lua e às estrelas. E pôs-se a sonhar com uma nadadora de touca nenúfar-pompom com antenas para repartir com ela o seu coração e aquela verdade.
A história do pirata estava já encaminhada para um final feliz e a rapariga, como quem salta poldras de um regato, estava pronta para outra aventura. Mas o mar ainda a chamava. Ah! o mar, que difícil livrar-se do seu apelo! E decidiu tornar-se sereia. Sim, seria a que se tinha apaixonado pelo príncipe, que salvara da morte, durante a tempestade. Era o que mais lhe agradava. E logo começou a sentir o seu corpo axadrezar-se de escamas, verdes-cinza e azuis, que iam do claro transparente ao quase negro das profundezas dos jardins do mar, onde tinha o seu, ao pé do das suas irmãs. Ai dela! Vinha, agora, cada vez mais, à superfície das águas, com o seu toucado de algas e enfeitada numa das faces, que as raparigas da terra tinham coradas, com uma estrela vermelha. Tentava vê-lo, aproximava-se o mais possível do palácio, mas ele não sabia que fora ela a salvá-lo, nem podia apaixonar-se por uma sereia. Tinha de arranjar duas pernas. Pela história, tão amada, sabia que ela estava disposta a dar à feiticeira do mar o que de mais precioso tinha – a sua voz e o seu canto, que enfeitiçavam, em troca de duas pernas. Queria aproximar-se dele, dançar para ele, mesmo sabendo que seria como caminhar sobre espadas cortantes. Mas o que era uma dor física em relação ao apelo do amor? Um mistério ainda mais exigente do que a amizade, era isso… E foi quando uns miados, rabiosos e insistentes, lhe interromperam o sonho. Claro, era o bichano que não gostava das profundezas do mar.
― Bichaninho! Bichaninho! — e passava-lhe a mão pelo pêlo a sossegá-lo. ― Nada de aflições!
Estava disposta a providenciar um escafandro, se necessário, para que ele pudesse passear com ela pelos jardins submersos. Mas ele, pelos vistos, não se deixava convencer pelas suas festas, miava desesperadamente. O que teria?! Só então reparou que o sol ia morrendo e a sombra arrefecia. Tinha-se esquecido do seu lanche e do leitinho dele. Era isso. O bichano reclamava, com fome, o seu pratinho de leite. Pronto, pronto. Teria de fechar, à pressa, o seu baú de sonhos e de lá meter, rápido, rápido, os fatos que não tinha chegado a usar. Que pena! Tão apropriados para um baile de máscaras!
O de menina-alforreca,
o de menina-balão,
o de arlequim,
o de toucado-coração-de-lira, para arpoar um coração gémeo,
e o dos anos-vinte com bolsinha e todo franjado, como os antigos candeeiros de vidrilhos. Tão próprio para dançar o charlston! Para outra vez seria…
O bichano já ia longe, numa corrida de afoiteza, acelerada, que a fome é negra. Teve de se resignar. E também ela correu para casa.

Os magos que não chegaram a Belém