2º - ciclo - O Planeta Branco - Miguel Tavares
I
Navegavam pelo espaço há vários dias, dentro da sua pequena nave
branca – Ítaca-3000. Tinham sido lançados do coração de África para o
espaço, do calor de África para o frio que reinava lá fora. Um foguetão
transportara a nave até ao limite da atmosfera terrestre e daí, com um
último rugido dos seus potentes motores, empurrara a pequena nave para
diante e desintegrara-se a si próprio.
A Ítaca-3000 ficara sozinha na imensidão de um céu que era luminoso
de dia, quando navegavam no quadrante do Sol, e escuro como breu durante
a noite. Depois da separação do foguetão e dos solavancos que se seguiram,
parecendo que a nave se ia partir aos bocados, tudo ficou silencioso e quieto
a bordo. À medida que se soltavam da órbita da Terra e, com o motor auxiliar
desligado, deslizavam tranquilamente como se viajassem numa estrada de
espuma.
Os três astronautas espreitaram pelas pequenas janelas laterais de
bordo, a que chamavam escotilhas, vendo ao longe a Terra a desaparecer
aos poucos, tornando-se cada vez mais distante e mais pequena, as
manchas castanhas dos vales e das planícies, as manchas verdes das
florestas, as manchas cinzentas das cidades que de noite se iluminavam
como um presépio visto ao longe e as manchas das nuvens e das neve
eternas que cobriam os cumes das mais altas montanhas. E, por entre todas
as outras cores, o azul dos mares e oceanos, parecendo, dali de cima, formar
pequenas baías como poças de água entre a areia e as rochas de uma praia.
Lucas era o mais velho e, por isso, o chefe da missão. Tinha o cabelo
castanho e uns olhos verdes muito calmos, que às vezes pareciam tristes,
outras vezes pareciam apenas preocupados. Falava pouco e passava a
maior parte do tempo entretido a verificar todos os aparelhos e os indicadores
de bordo, a confirmar no computador que tudo estava certo – a rota, a
altitude, a velocidade, a inclinação, os painéis solares que davam energia à
nave, o sistema de comunicações com Terra, os lemes laterais, que
serviam para mudar de direcção ou de altitude. Duas vezes ao dia –
quando amanhecia na nave e logo antes de o Sol se pôr para eles –, Lucas
entrava em comunicação com a base de Terra e fazia um relato completo de
tudo o que tinha sucedido a bordo e que observara. Então, a base
fazia-o testar os sistemas todos, para confirmar que tudo estava em ordem e
que a viagem podia prosseguir, como planeado.
Lydia era a piloto auxiliar e navegadora. Cabia--lhe a missão
de substituir Lucas, se este adoecesse ou por qualquer outra razão
estivesse incapaz de dirigir a nave. E era também ela que a todo o instante
actualizava os cálculos sobre a navegação, conferindo-os com os do
computador, e quem anunciava aos outros onde estavam e que astros e
planetas poderiam ver se espreitassem pela escotilha. Era uma rapariga
vietnamita, de olhos oblíquos, cabelo curto escuro como breu, muito
arrumada e organizada e que passava todos os tempos livres a ouvir música
nos seus auscultadores.
O terceiro astronauta era Baltazar, o mais novo deles, negro de
Moçambique, que desempenhava as funções de engenheiro de bordo. Era
ele que tinha de reparar todas as avarias que acontecessem nos sistemas e,
por isso, passava o tempo todo a testar a quantidade imensa de
equipamentos que havia a bordo da Ítaca. Mas Baltazar era um brincalhão
que nunca conseguia estar quieto. Adorava passear-se pelo espaço reduzido
da nave, flutuando no ar, devido à ausência de gravidade, que faz com que
os corpos não tenham peso e fiquem suspensos no ar, a menos que, como
sucedia habitualmente com os astronautas, estivessem sentados e atados
pelo cinto de segurança às cadeiras. A bordo da Ítaca, como em todas as
outras naves, havia umas argolas de ferro presas às paredes e ao tecto, para
os astronautas se agarrarem, quando tinham de se deslocar para ir à casa de
banho, à despensa e cozinha ou para os beliches onde dormiam, e assim
não andarem de encontro às paredes ou às máquinas. Mas, para Baltazar, o
maior divertimento era mesmo o de se deslocar pelo ar, sem se agarrar a
nada, tentando chegar aos sítios, esbracejando, como se estivesse a nadar
no mar. Os outros fartavam-se de rir com ele, vendo-o a esbarrar
constantemente em tudo, mas, às vezes, Lucas achava que a brincadeira os
distraía de mais e ordenava:
- Baltazar, volta para o teu lugar e senta-te já, que isto é uma nave
espacial, não é nenhum jardim infantil!
E Baltazar lá voltava, sempre a rir e a contar anedotas, para o seu
lugar de engenheiro, que ficava atrás da cadeira de Lydia – a qual se sentava
à frente, à direita, ao lado de Lucas, que ia sentado do lado esquerdo da
frente, que é o lugar dos comandantes das naves, dos aviões, dos chefes de
bando dos pássaros e de tudo o que voa.(...)
Oficina do livro
3º ciclo - Experiência Antártica: relatos de um cientista polar português - José Xavier
Há cientistas que vão até ao fim do mundo para encontrarem a Natureza em estado puro. É o caso de José Xavier, biólogo marinho premiado, que passou nove meses seguidos nos gelos da Antárctida, onde, apesar do clima adverso, o mundo vivo é espantoso e abundante. Neste livro conta-nos a aventura que é a experiência da descoberta científica no pólo e a vida longe da civilização.
Os jovens vão sentir-se seduzidos pela aventura. Os jovens de há mais tempo vão saber o que é a paixão pela ciência alimentada por uma voraz curiosidade. Empolgante.
Há cientistas que vão até ao fim do mundo para encontrarem a Natureza em estado puro.
É o caso de José Xavier, cientista polar da Universidade de Coimbra e do Instituto British Antarctic Survey (Reino Unido), que passou nove meses seguidos na Antárctida,primeiro a bordo de um navio científico e depois numa base de investigação.
Biólogo marinho a fazer investigação na Antárctida desde 1997, o seu objectivo é perceber como a biodiversidade em ambientes extremos é afectada por alterações climáticas.Neste livro ele conta-nos, em primeira mão, a aventura que é a experiência da descoberta científica nesta região polar. Em particular, como é viver e fazer ciência com um grupo muito pequeno de outros cientistas, longe da civilização.
Todos os dias, incluindo sábados e domingos, são por eles aproveitados para observar e estudar a vida selvagem. Os jovens vão sentir-se seduzidos pela aventura. E os jovens há mais tempo vão saber o que é a paixão pela ciência alimentada por uma voraz curiosidade.
Hoje existe ciência polar em Portugal. Em forma de diário, Experiência Antárctica é o relato da vida de um cientista português num território distante e hostil: os gelos da Antárctida.
A sua leitura conduz-nos a paisagens onde, apesar do clima adverso, o mundo vivo é espantoso e abundante. Mas estará a biosfera ameaçada por problemas como o buraco de ozono e o aquecimento global?
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